Comportamento Teen - Maquiagem

Sob influência das redes sociais, elas adotam rotinas de skincare, os quais podem passar dos limites

Com a popularidade crescente das redes sociais, a pressão para que crianças e adolescentes adotem rotinas de skincare e uso de maquiagem tem se intensificado. Este fenômeno pode acarretar consequências sérias para a saúde física e mental dos jovens.

A brincadeira de imitar adultos, especialmente diante do espelho ou da câmera do celular, é cada vez mais comum entre as crianças. No entanto, tal prática pode ser prejudicial quando incentiva a busca por padrões de beleza inatingíveis para essa faixa etária. As redes sociais, particularmente o TikTok, desempenham um papel significativo nisso, com algoritmos sofisticados que direcionam conteúdos, influenciando crianças e adolescentes a adotarem rotinas de cuidados para com a pele.

A geração alfa, composta por crianças nascidas a partir de 2010, é especialmente suscetível a essas influências. Embora as plataformas sociais permitam usuários apenas a partir dos 13 anos, inúmeras crianças menores acessam esses conteúdos, sem restrições. Influenciadores mirins, que compartilham vídeos de maquiagem, imitando comportamentos adultos, são um reflexo claro dessa tendência.

Adultização precoce

Especialistas alertam para os riscos físicos e psicológicos dessa antecipação de comportamentos adultos. Segundo a professora Luciana Caetano, do Instituto de Psicologia da USP, a adultização precoce retira das crianças o direito de vivenciarem uma infância saudável. Elas são expostas a preocupações com a aparência e a beleza, típicas do mundo adulto, deixando de lado atividades essenciais ao desenvolvimento infantil, como brincadeiras ao ar livre e construção de amizades.

Luciana também destaca a influência negativa das estratégias de marketing direcionadas ao público infantil, que ainda não possui capacidade crítica para tomar decisões bem-informadas. Os pais desempenham um papel fundamental em proteger as crianças desses estímulos inadequados, restringindo o uso excessivo de telas e promovendo atividades mais saudáveis e educativas.

Consequências físicas e psicológicas

Segundo Luciana, a antecipação de comportamentos adultos pode levar a problemas de saúde mental, como ansiedade e depressão, e ao desinteresse pela escola e pela construção de conhecimento. A professora ressalta que a valorização excessiva da aparência pode impedir o desenvolvimento de outros valores importantes para a criança.

A especialista enfatiza a necessidade de os pais monitorarem e limitarem o uso de dispositivos eletrônicos e redes sociais, promovendo atividades que fortaleçam o vínculo familiar e o desenvolvimento saudável das crianças.

Cuidados essenciais

Do ponto de vista dermatológico, a médica Paula Yume (CRM/SP 162.654), da Faculdade de Medicina da USP, alerta para os riscos do uso de maquiagem adulta na pele infantil. A pele das crianças, por ser mais fina e ainda imatura, é mais suscetível a alergias e dermatites causadas por substâncias irritantes presentes nos cosméticos, como fragrâncias, corantes e metais pesados.

Doutora Yume enfatiza que a prática de skincare com produtos adultos é desnecessária para crianças. A pele jovem já é rica em colágeno e fibras elásticas, e a perda dessas substâncias só ocorre por volta dos trinta anos. Para crianças, a rotina de cuidados deve incluir apenas limpeza com sabonete adequado, uso de creme hidratante e protetor solar. Em casos específicos, como pele atípica, produtos específicos podem ser necessários, porém com orientação de um profissional.

Conscientização

É essencial que pais e responsáveis conversem com seus filhos sobre os riscos do uso precoce de maquiagem e de cuidados com a pele. Promover um ambiente saudável e equilibrado, longe das influências prejudiciais das redes sociais, é fundamental para garantir o desenvolvimento pleno e saudável das crianças.

Essa conscientização é vital para garantir que as crianças desfrutem de uma infância livre de pressões estéticas inadequadas, focada no desenvolvimento de valores sólidos e na construção de um futuro saudável.

Fonte: https://jornal.usp.br/