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Cultura - Cinema

O cinema nacional e a luta para que ele chegue ao grande público

Grandes produções devem chegar às salas de exibição ainda neste ano

 

O cinema brasileiro, que já produziu grandes obras como O Pagador de Promessas, do diretor Anselmo Duarte, vencedor do Festival de Cannes, tem enfrentado várias crises, ao longo de sua existência. Na época da ditadura, a pornochanchada foi um importante meio para que artistas, diretores e outros profissionais ligados ao cinema conseguissem driblar a censura e, ao mesmo tempo, sobreviver.

Mesmo durante o período mais duro da censura, alguns diretores conseguiram produzir obras memoráveis. É o caso de Hector Babenco, diretor argentino radicado no Brasil (já falecido), que lançou o filme Pixote, A Lei do Mais Fraco, em 1980. O filme retrata a dura realidade de um menino de 11 anos, após fugir de um reformatório. Fernando Ramos da Silva, que interpretou o personagem Pixote, acabaria morto pela PM paulista em 1987, após tentar, sem sucesso, prosseguir com a carreira de ator e entrar na criminalidade.

Outra obra marcante dos anos 80 é Eles Não Usam Black-tie, do diretor Leon Hirszman, que trata dos conflitos e anseios da classe trabalhadora, no final dos anos 70. O longa é baseado na peça homônima de Gianfrancesco Guarnieri e é um relato contundente e corajoso das lutas dos trabalhadores, naquele período.

São obras marcantes que evidenciam o talento e o potencial do cinema brasileiro, assim como os mais recentes Central do Brasil e Tropa de Elite. Ainda assim, o cinema brasileiro enfrenta muitos desafios, como por exemplo, atrair o grande público e conquistar mais expectadores.

Para estudiosos, o debate do cinema nacional sobre como chegar ao grande público arrasta-se há décadas. Mais precisamente desde os anos 30, quando surgiram as primeiras medidas de proteção às obras nacionais. Essas ações tinham por objetivo proteger o cinema nacional do avanço do todo-poderoso cinema americano, que vorazmente se estendia para outros países.

Mais recentemente, a Pandemia de covid-19 contribui para afastar o público das salas de exibição, criando mais um problema para o mercado cinematográfico nacional, que ainda luta para recuperar-se.

No entanto, a crise atual é mais aguda, e tornou-se mais concreta desde junho, quando a Agência Nacional do Cinema (Ancine) divulgou o painel Indicadores do Mercado de Exibição, um relatório sobre o comportamento e o faturamento do parque exibidor.

O painel funciona, em primeiro lugar, como um retrato do impacto da pandemia. Embora os dados de público e renda de 2023 já superem os de 2021 e caminhem para bater os de 2022, seguem bem atrás dos registrados nos anos pré-covid. Em 2019, as salas do país receberam 173 milhões de espectadores e arrecadaram 2,75 bilhões de reais; em 2022, os mesmos índices ficaram em 95 milhões e 1,82 bilhão de reais; e, em 2023, considerando o período de 5 de janeiro a 2 de agosto, estão em 75 milhões e 1,49 bilhão de reais.

A diferença entre o cenário pré e pós-pandemia é especialmente acentuada, no que diz respeito ao cinema brasileiro. A participação de mercado dos filmes nacionais, que era de 13,3% em 2019, foi para 4,2% em 2022 e está em apenas 1,4% em 2023.

O painel também mostra que, em 2019, quatro filmes brasileiros ficaram entre os 20 títulos mais vistos do ano, enquanto os rankings de 2022 e 2023 só incluem obras internacionais. E mesmo as listagens dedicadas apenas às produções brasileiras são reveladoras: em 2019, todos os 20 filmes nacionais mais vistos bateram a marca de 100 mil espectadores (e seis deles, a de 1 milhão); em 2022, somente os dez primeiros títulos do ranking superaram essa faixa de público, e em 2023, até agora, apenas três.

Não há dúvida de que o fechamento dos cinemas e a necessidade de isolamento social deram gás às plataformas de streaming e aceleraram a mudança que já estava em curso. Ao mesmo tempo, o Brasil sentiu o agravante de passar pela pandemia com Jair Bolsonaro na Presidência. A desastrosa forma como seu governo lidou com a COVID aprofundou uma crise sanitária e financeira, que também impactou o setor audiovisual.

Antes de a COVID forçar o fechamento das salas, o audiovisual brasileiro já sentia os efeitos do desmonte cultural promovido por Bolsonaro, que envolveu, entre outras ações, a extinção do Ministério da Cultura e ataques públicos à classe artística e às leis de incentivo. Seu governo também não renovou a Cota de Tela, mecanismo que obrigava as empresas exibidoras a incluírem longas-metragens brasileiros em sua programação, o qual deixou de valer em 2021.

Desobrigados a reservar espaço para os filmes brasileiros e buscando recuperar-se do baque da pandemia, os exibidores apostam cada vez mais alto nas obras que presumem ter público garantido (leia-se: franquias e outros grandes lançamentos hollywoodianos). Segundo dados da Ancine, em 2022, longas como Avatar: o caminho da água e Doutor Estranho no Multiverso da Loucura tomaram quase 90% do parque exibidor, enquanto nenhum título brasileiro chegou a ocupar mil salas. Recentemente, a avassaladora estreia de Barbie, combinada à de Oppenheimer, deu novo exemplo de como poucos filmes podem dominar o circuito.

Fonte: revista Itaú Cultural.

Renascendo das cinzas

Mas, embora o cenário ainda seja desafiador, o cinema brasileiro, assim como a mitológica Fênix, ave que renascia das próprias cinzas, sempre ressurge, vamos esperar o final do ano para conferir as novidades que vêm por aí, como o aguardado longa Meu nome é Gal, sobre a vida de uma das maiores cantoras do país, Gal Costa, interpretada por Sophie Charlotte.

 

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