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Matéria Capa - Clima e alimentos

Como as mudanças climáticas podem afetar a produção de alimentos

Redução da produtividade e dificuldade de planejamento do setor estão entre os problemas

 

As mudanças no clima do planeta, acentuadas após a revolução industrial, exercerão forte impacto no mercado global de alimentos. O problema é grave e requer atenção de toda a sociedade: governos, profissionais ligados ao setor produtivo, produtores rurais e consumidores.

Segundo especialistas, as mudanças climáticas têm um impacto significativo na produção de alimentos, em todo o mundo. Entre estas mudanças, podem-se elencar as seguintes: Redução da produtividade – o clima desempenha um papel crucial na produção de alimentos, influenciando cerca de 30% do desempenho geral. Períodos prolongados de seca podem prejudicar o desenvolvimento das plantas, o enchimento dos grãos e a qualidade das pastagens. Culturas como soja, milho, feijão, café e laranja enfrentam problemas devido à estiagem. Dificuldade de planejamento – Agricultores e pecuaristas organizam suas atividades com base na sazonalidade climática. No entanto, eventos climáticos extremos (como ondas de calor e secas) trazem imprevisibilidade. A frequência desses eventos extremos aumentou desde 1950, tornando o planejamento mais desafiador.

Projeções para a América do Sul:

O relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) indica a possibilidade de aumento das secas no Nordeste brasileiro, na Amazônia e no Centro-Oeste. A ausência de chuvas durante longos períodos dificulta o desenvolvimento das plantações e reduz a qualidade das pastagens.

No mundo, o impacto das mudanças climáticas pode ser notado da seguinte forma: inundações, ondas de calor, secas e aumento de concentrações de ozônio afetam negativamente a produção agrícola em várias regiões. A grande variação do clima faz com que aumente a escassez sazonal dos alimentos e a primeira consequência dessa situação é o aumento de preços.

A variabilidade climática extrema intensificou a escassez sazonal de alimentos.

Ar mais quente e cereais menos nutritivos

Estudos indicam que o aquecimento global resulta na produção de cereais menos nutritivos, devido ao ar mais quente. Em resumo, as mudanças climáticas representam um desafio significativo para a segurança alimentar global, exigindo ações coordenadas para mitigar seus efeitos, na produção de alimentos.

Alerta

Segundo a Organização Não Governamental INESC (Instituto de Estudos Socioeconômicos), o aumento da temperatura provoca secas cada vez mais intensas e frequentes, além de grandes tempestades, que podem resultar na quebra de safras, na diminuição da produção de alimentos e no aumento de seus preços, gerando fome. Por isso, a ONG costuma usar o dia 16 de outubro, Dia Mundial da Alimentação, para fazer um alerta sobre os imensos desafios socioambientais que envolvem esta questão.

Seca história e chuvas intensas

A ONG destaca também que, nos últimos anos, “enquanto a Amazônia enfrenta as piores secas, o Sul do País é profundamente afetado por chuvas intensas e enchentes. Esses eventos extremos são resultado do aquecimento global, consequência da ação humana predatória, e impactam consideravelmente a situação alimentar da população, especialmente da mais vulnerabilizada. A combinação de baixa oferta de alimentos in natura com preços elevados contribui para aumentar a busca por produtos ultraprocessados, o que traz à tona uma outra vertente da insegurança alimentar e nutricional: o sobrepeso e a obesidade”.

O INESC ressalta ainda que “o Brasil convive atualmente com o seguinte paradoxo: de um lado, 33 milhões de pessoas passam fome e, de outro, há mais de 40 milhões de pessoas obesas. A crise climática e sua retroalimentação com a fome, a desnutrição e a obesidade são um grande risco para a humanidade, num processo chamado de sindemia global”.

Mudanças climáticas

De acordo com o Instituto, é “Importante destacar que a agropecuária pode ser tanto uma ameaça quanto uma solução para combater as mudanças climáticas. Apesar dos aumentos de produtividade, a expansão do agronegócio, no Brasil, ainda é a grande responsável pelo desmatamento, sendo uma das principais fontes de emissões de gases de efeito estufa. Além disso, a produção de carne bovina é responsável pela emissão de metano, outra causa do aquecimento global. Por outro lado, a agricultura sustentável, combinada com mudanças na dieta, pode compatibilizar a produção de alimentos saudáveis com o combate às mudanças climáticas. Para tal, é necessário, acabar com o desmatamento; restaurar as florestas; redistribuir terras e territórios; respeitar os modos de vida dos povos indígenas e dos povos e comunidades tradicionais; fortalecer a agricultura familiar; adotar a agroecologia como modelo de produção; implementar uma política de abastecimento baseada em circuitos curtos, que aproximam o produtor do consumidor de alimentos; expandir a agricultura urbana; diminuir drasticamente a produção e o consumo de ultraprocessados, entre outras medidas. É preciso, ainda, aprofundar os estudos que especifiquem melhor a relação entre mudanças climáticas e insegurança alimentar, identificando caminhos que possam nos ajudar a interromper esses círculos viciosos. Por ora, seguimos assistindo à transformação do clima, afetando bilhões de pessoas, em especial as empobrecidas. Segundo o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC, na sua sigla em inglês), cerca de 3,3 bilhões de pessoas são vulneráveis às consequências do aquecimento global e as pessoas têm hoje 15 vezes mais probabilidades de morrer devido a condições meteorológicas extremas do que no passado”, afirma o instituto.

Finalizando, a ONG avalia que “ainda é possível conter a crise climática com aumento de somente 1,5°C até o final do século 21; mas isso exige esforços enormes para a diminuição da emissão e o aumento do sequestro de gases de efeito estufa da atmosfera. Isso requer o forte e radical compromisso dos governos com o tema para, de fato, pôr em marcha uma outra forma de produzir e consumir, que nos permita viver em harmonia com a natureza”.

Impacto significativo

Um profissional do setor produtivo, que pediu para não ser identificado, lembrou que “as mudanças climáticas têm um impacto significativo na produção de alimentos de várias maneiras. Por exemplo, alterações nos padrões de temperatura e variações podem afetar o desenvolvimento das culturas, influenciando-lhes o ciclo de crescimento, robustez e maturação. Eventos climáticos extremos, como secas, inundações, ondas de calor e períodos tardios, causam danos diretos às plantações e ao gado, reduzindo a produção e a qualidade dos alimentos. Além disso, as mudanças climáticas também podem aumentar a incidência de previsões e doenças que afetam as plantas e os animais, prejudicando ainda mais a produtividade agrícola”.

Segundo este profissional, “para minimizar os efeitos das mudanças climáticas na produção agropecuária, os produtores rurais e o setor de agronegócio podem adotar várias medidas e ações. Isso inclui a implementação de práticas agrícolas sustentáveis, como o cultivo de variedades de culturas mais resistentes ao estresse hídrico e térmico, a diversificação de culturas para aumentar a resiliência, o uso eficiente de recursos hídricos e o manejo adequado do solo, para conservar a umidade e os nutrientes. Além disso, investimentos em infraestrutura, como sistemas de segurança mais eficientes e estruturas para proteção contra eventos climáticos extremos, também são essenciais. A educação e o treinamento dos agricultores em práticas adaptativas e a adoção de tecnologias de monitoramento e previsão climática também são importantes para melhorar a capacidade de possível resposta às mudanças climáticas”.

Uso da tecnologia

De acordo com esta fonte, “a tecnologia desempenha um papel importante na adaptação da agricultura às mudanças climáticas. Através da pesquisa e desenvolvimento, é possível desenvolver variedades de culturas mais resistentes ao estresse ambiental, incluindo variações de temperatura e disponibilidade de água. Isso envolve técnicas de melhoramento genético para desenvolver plantas mais resistentes e adaptáveis, bem como a utilização de técnicas de biotecnologia, como a engenharia genética, para introduzir características específicas de resistência em culturas importantes. Além disso, a tecnologia também pode aumentar a produtividade agrícola, permitindo práticas mais eficientes e sustentáveis. Por exemplo, sistemas de supervisão de proteção e monitoramento remoto podem melhorar o uso da água, reduzindo o impacto das secas e da escassez hídrica. O uso de drones e sensoriamento remoto pode ajudar os agricultores a monitorar as condições das plantações e identificar problemas precocemente, permitindo a tomada de decisões mais informadas e a implementação de medidas corretivas, de forma mais rápida e eficaz”.

Para este profissional, “é possível aumentar a produção de alimentos sem aumentar o desmatamento, porém através da adoção de práticas agrícolas sustentáveis e da intensificação sustentável da agricultura. Isso inclui o aumento da produtividade em áreas já desmatadas ou degradadas, por meio do uso de tecnologias e práticas agrícolas mais eficientes e sustentáveis, como o manejo integrado de agricultura, o uso de fertilizantes de liberação controlada e as variações de culturas. Além disso, estratégias como o aumento da produtividade das pastagens existentes, a recuperação de terras degradadas e a restauração de ecossistemas naturais podem contribuir para aumentar a produção de alimentos, sem a necessidade de expandir a fronteira agrícola sobre áreas de floresta ou de outros ecossistemas naturais. A promoção de sistemas agroflorestais e a integração da agricultura com a conservação da biodiversidade também são importantes para conciliar a produção de alimentos com a conservação ambiental”.

Área acadêmica

De acordo com este profissional, “na área acadêmica, já existem cursos que abordam as mudanças climáticas e seus efeitos na produção de alimentos. Estes cursos podem ser oferecidos em diversas disciplinas relacionadas à agronomia, como agrometeorologia, climatologia agrícola, ecologia agrícola, manejo de recursos naturais, entre outras. Eles fornecem, aos estudantes, conhecimentos teóricos e práticos sobre como as mudanças climáticas afetam a agricultura e quais são as estratégias de adaptação e mitigação que podem ser adotadas para melhor enfrentar esses desafios. Também existem programas de pós-graduação e cursos de extensão que propõem especialização especificamente em questões relacionadas às mudanças climáticas e agrícolas, proporcionando uma formação mais avançada e específica, nessa área”.

Finalizando, este profissional avalia que “as instituições de ensino da área devem preparar-se e preparar seus alunos para os desafios de um clima mais extremo, no futuro, por meio da integração de conteúdos relacionados às mudanças climáticas em seus currículos, tanto no nível de graduação quanto no de pós-graduação. Isso inclui a atualização constante dos conteúdos programáticos para refletir os avanços científicos e tecnológicos mais recentes, bem como a promoção de atividades práticas e experiências de aprendizagem que permitem aos alunos entender, de forma mais concreta, os impactos das mudanças climáticas na agricultura e as estratégias de adaptação e mitigação disponíveis.

Além disso, as instituições de ensino também podem promover a realização de pesquisas científicas e o desenvolvimento de tecnologias inovadoras para a agricultura sustentável e a adaptação às mudanças climáticas, incentivando a colaboração entre professores, pesquisadores, estudantes e o setor produtivo. Programas de capacitação e treinamento contínuo para profissionais já atuantes na área também são importantes para garantir que estejam atualizados e preparados para lidar com os desafios do clima em constante mudança”

Questão intrínseca

“O problema climático está intrinsecamente ligado à produção de alimentos, pois as mudanças nas condições climáticas afetam diretamente a agricultura e comprometem a segurança alimentar global. Os padrões climáticos imprevisíveis, como secas prolongadas, chuvas intensas e temperaturas extremas, representam desafios significativos para os agricultores em todo o mundo. Essas condições climáticas adversas podem reduzir a produtividade das colheitas, diminuir a qualidade dos alimentos e aumentar os riscos de perda de cultivos”.

A afirmação é do engenheiro agrônomo Samuel Grillo Negrin, gerente nacional de vendas B2B na ICL ADS.

Ele aponta ainda que “as mudanças climáticas também impactam negativamente os recursos naturais essenciais para a produção de alimentos, como a disponibilidade de água e a fertilidade do solo”.

Enfrentamento

Segundo Negrin, “para enfrentar esses desafios, os agricultores estão sendo forçados a adotar práticas agrícolas mais sustentáveis e resistentes ao clima, como a agricultura de conservação, o cultivo de variedades de plantas mais adaptadas às condições climáticas locais e o uso eficiente de recursos hídricos. Além disso, políticas globais e investimentos em pesquisa são essenciais para desenvolver soluções inovadoras, que ajudem a mitigar os impactos das mudanças climáticas na produção de alimentos e possam garantir a segurança alimentar para as gerações futuras”.

 

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