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Matéria Capa - Solidariedade

Tragédia no Rio Grande do Sul provoca “tsunami de solidariedade”

As enchentes deixaram mais de 160 mortos e milhares de desabrigados; no entanto, despertaram a solidariedade dos brasileiros e estrangeiros

 

Um prejuízo de bilhões de reais e um custo ainda maior em vidas perdidas e histórias interrompidas. As enchentes que devastaram o Rio Grande do Sul entre o final de abril e maio são a face mais visível dos extremos climáticos que o planeta está vivenciando e que, segundo especialistas, deverá ser o novo normal, em termos de clima para os próximos anos. E está claro que a ação humana tem influência nessas mudanças.

Mas, para além da tragédia em si, as enchentes que afetaram 85% do Rio Grande Sul despertaram um sentimento igualmente forte: a solidariedade e a empatia que o ser humano apresenta em relação ao seu semelhante, em casos de grandes tragédias ou catástrofes, quando perdas demais evocam emoções contidas até então.

Centenas de voluntários juntaram-se aos bombeiros, policiais, resgatistas e outros profissionais, para socorrer pessoas ilhadas, presas em suas próprias casas ou em árvores e até mesmo torres de energia. Os animais também foram resgatados com enorme carinho e cuidado por abnegados voluntários. “Nenhuma vida fica para trás”, disse um voluntário ao ser entrevistado por uma emissora de TV. Até a ONU (Organização das Nações Unidas) enviou cerca de 200 casas montáveis para o Estado. É um verdadeiro tsunami de solidariedade, com toneladas de doações de produtos, como roupas, artigos para higiene, água e muito mais.

A onda de solidariedade conta com participantes de países vizinhos, como a Argentina. Estados brasileiros enviaram homens e cães para o resgate de pessoas e equipamentos para retirar a água das ruas das cidades gaúchas. É o caso do governo de São Paulo que, através da Sabesp, enviou 18 bombas para sugar a água das ruas. Cada bomba pesa cerca de 10 toneladas e pode puxar milhares de litros de água.

Sim, a tragédia que se abate sobre nossos irmãos gaúchos afetou todo o Brasil, mas também, mostrou o quanto o brasileiro é solidário. Mas o que significa, exatamente, ser solidário? Segundo o dicionário, solidariedade é “um ato de bondade e compreensão para com o próximo ou um sentimento, uma união de simpatias, interesses ou propósitos entre os membros de um grupo: Cooperação mútua entre duas ou mais pessoas; Identidade entre seres; Interdependência de sentimentos, de ideias, de doutrinas”. Fraternidade. Compartilhamento.

Podemos dizer que solidariedade e caridade andam lado a lado, pois não dá para fazer caridade sem sentir bondade pelo próximo. Ou seja: não dá para fazer caridade sem ser solidário. E nos últimos dias, o povo brasileiro tem reforçado o conceito de ser um povo solidário.

Toneladas de doações e solidariedade

O brasil inteiro mobilizou-se para levar ajuda e um pouco de alívio ao Rio Grande do Sul. O governo de São Paulo, por exemplo, além dos equipamentos e do envio de bombeiros e outros profissionais, como veterinários, enviou toneladas de doações: produtos de higiene pessoal, alimentos, cestas básicas, ração para animais e água potável, em um total de quase 80 toneladas de produtos.

Paraná

O estado do Paraná também fez sua parte, enviando 890 toneladas de donativos, principalmente, alimentos não perecíveis, para ajudar os afetados, no Rio Grande do Sul.

Itapetininga

Segundo a prefeitura, duas novas remessas com um total de 55 toneladas em doações feitas pela população partiram no dia 20 de maio, do Fundo Social de Solidariedade de Itapetininga, com destino às famílias afetadas pelas fortes chuvas no Rio Grande do Sul. Ao todo, Itapetininga já destinou 305 toneladas de donativos ao Estado gaúcho.

Desta vez, as carretas que partiram rumo ao Rio Grande do Sul contavam, principalmente, com doações de água potável, agasalhos, cobertores, brinquedos, produtos de higiene e limpeza, alimentos e ração para animais. Entre os milhares de itens recebidos, também gestos de carinho, como cartinhas de apoio às pessoas atingidas embaladas juntamente com barras de chocolate.

As doações foram cuidadosamente acondicionadas nos veículos pelas dezenas de voluntários que atuam no FSS desde o início da campanha e que disponibilizaram seu tempo para ajudar voluntariamente. A Campanha “SOS Rio Grande do Sul” contou, mais uma vez, com adesão maciça da população itapetiningana e da região, de voluntários, empresários, grupos religiosos, associações e entidades, entre muitos outros.

“O povo sempre foi solidário”

“O povo brasileiro sempre foi solidário, assim como o tatuiano”. A frase é do empresário Eric Proost, 57 anos, proprietário da CVC Viagens Cidade Ternura e tesoureiro da Associação Comercial de Tatuí.

Ele afirma que, embora não tenha os números gerais de doações da cidade, “vi movimentações de entidades, prefeitura, empresas e entre outras que provavelmente ficaram no anonimato... mas acredito que saiu um bom volume de doações e cada um com sua logística... carretas da cidade saíram diretamente para o Rio Grande do Sul, carros com doações importantes e de pequeno porte foram até lá”, conta Proost, acrescentando ter recebido vídeos “de visitas nos abrigos montados. Como estamos à frente da Associação Comercial, fizemos uma parceria com a CVC Viagens, que fez uma grande arrecadação de mais de 100 toneladas em doações para o Rio Grande do Sul e através das cias aéreas fez toda a logística de retirar nas mais de 1000 lojas espalhadas pelo Brasil.... Aqui então, a ACE escolheu doar cobertores novos e através do PIX juntamos quase 500 cobertores (aprox. R$ 15.000,00) e entregamos para a CVC fazer a logística”, informou o empresário.

Produtos de maior necessidade

Segundo ele, as roupas doadas pelos tatuianos foram suficientes, mas ressalta que “água e remédio serão itens de prioridade, mas temos que aguardar os pedidos reais, para não enviar a mais e nem a menos. O cuidado sempre deve haver, pois aproveitadores, nestas horas, aparecem como lobos vestidos de cordeiros... procurar entidades estabelecidas para não cair em golpes!”. Proost avalia que o povo de Tatuí “é solícito. Na hora que precisar, com toda a certeza, as entidades, prefeitura e empresas vão se mexer (para enviar mais doações).

O empresário lembra que também, no município de Tatuí, “existem bairros menos favorecidos, até mesmo com falta de estrutura como agua, esgoto, iluminação pública e pavimentação... com toda a certeza, estes moradores também precisam da nossa ajuda. A ACE gostou da ideia dos cobertores e está lançando uma campanha de inverno de cobertores para estas famílias menos favorecidas da cidade”.

Para quem ainda não decidiu fazer uma doação, Proost afirma que “na maioria das vezes, uma doação chega em boa hora para um necessitado, mas quem ganha mesmo é o doador. Doar ou doar-se para um trabalho voluntario, faz bem para o coração e para a alma. Desta vida não levamos nada, doe você também! Faça esta experiência!”.

Impacto na saúde

Pesquisadores do Observatório de Clima e Saúde do Icict/Fiocruz (Instituto de Comunicação e Informação Científica e Tecnológica em Saúde) elaboraram uma nota técnica sobre as inundações no Rio Grande do Sul, seus impactos imediatos e suas possíveis consequências sobre a saúde da população. De acordo com o documento, além de atingir mais de 3 mil estabelecimentos de saúde (como hospitais, postos de saúde, farmácias e clínicas particulares) em todo o Rio Grande do Sul, o desastre climático já impactou, de alguma forma mais de 2,5 milhões de pessoas e deixou 1,3 milhão de residências em zonas de risco.

Recursos

Informações do governo do Rio Grande do Sul estimam que a reconstrução do estado pode custar entre R$ 70 bilhões e RS 100 bilhões. O trabalho também deve ser longo e ultrapassar o mandato do governador Eduardo Leite.

No dia 29 de maio, o governo federal publicou Medida Provisória disponibilizando linhas de financiamento para empresas do Rio Grande do Sul, no contexto da tragédia climática que atinge o estado desde o final de abril.

Foram anunciadas três linhas de financiamento:

• Compra de Máquinas, Equipamentos e Serviços: as taxas de juros têm custo base de 1% ao ano, somado à diferença entre a taxa cobrada pelos bancos e a taxa paga pela instituição financeira ao captar o dinheiro (chamada de "spread bancário"). O prazo é de 60 meses, com carência de um ano;

• Financiamento a Empreendimentos: projetos customizados incluindo obras de construção civil. As taxas de juros têm um custo base de 1% ao ano, somado à diferença entre a taxa cobrada pelos bancos e a taxa paga pela instituição financeira ao captar o dinheiro (chamada de "spread bancário"). O prazo é de 120 meses, com carência de dois anos.

• Capital de Giro Emergencial: taxas de custo base de 4% ao ano para MPME (Micro, Pequenas e Médias Empresas) e 6% ao ano para grandes empresas, mais o spread bancário. O prazo é de até 60 meses com carência de 12 meses.

As operações têm limites de R$ 300 milhões para as linhas de compra de máquinas e financiamento a empreendimentos. Já a linha de crédito para capital de giro emergencial de pequenas empresas tem limite de R$ 50 milhões, enquanto grandes empresas podem financiar até R$ 400 milhões.

O governo também vai autorizar o aporte adicional de R$ 600 milhões do FGO (Fundo de Garantia de Operações) para operações de crédito a pequenos e médios produtores rurais.

Segundo o governo, os agricultores que já vinham enfrentando perdas por causa das mudanças climáticas reclamam de não conseguir ter acesso aos programas, já subsidiados, da Pronaf (Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar) e Pronamp (Programa Nacional de Apoio ao Médio Produtor Rural). Com o aporte adicional do FGO, a ideia é atender a esses agricultores que não conseguem segurar suas operações no Pronaf e Pronamp.

Outras medidas

O governo anunciou que vai permitir que as Cooperativas de Crédito passem a operar dentro do Pronampe (Programa Nacional de Apoio às Microempresas e Empresas de Pequeno Porte). O Pronampe é um programa de acesso ao crédito subvencionado para pequenas empresas. Com a medida, o objetivo é aumentar o acesso ao crédito para tais empreendimentos.

Além disso, o Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovação vai disponibilizar uma linha de crédito por meio da Finep (Financiadora de Estudos e Projetos). São até R$ 1,5 bilhão à taxa referencial (TR, usada para correção da poupança e do FGTS). Metade desses recursos será destinada a micro, pequenas e médias empresas. Segundo a pasta, até 40% do empréstimo pode ser usado em investimentos de infraestrutura de pesquisa, desenvolvimento e inovação.

Balanço

A secretária-executiva da Casa Civil, Miriam Belchior, fez um balanço do que já foi realizado pelo governo federal. Ela informou que, nas ações de defesa civil, o governo aprovou a liberação de R$ 310 milhões para 207 municípios que apresentaram pedidos, dos quais R$ 176 milhões foram pagos no final de maio. Belchior afirmou que o governo está realizando um levantamento com municípios gaúchos do que será preciso reconstruir em termos de infraestrutura (como escolas, hospitais, assentamentos).

 

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